quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Yoga na Gestação e no Parto - Relato de Parto de Célia Regina da Silva


O Yoga na Gestação e no Parto: a Maternidade como Caminho de Auto-Conhecimento

O Yoga Sutra de Patanjali diz que o yoga tem 8 ramos ou partes e Iyengar dispõe estas como partes de uma árvore. A árvore do yoga é formada por oito partes que estão organizadas da seguinte forma: os Yamas (não violência - ahimsa, veracidade - satya, não roubar - asteya, domínio da energia - bramacharya e desapego - aparigraha) como a raíz; os Nyamas (pureza - saucha, contentamento - santosha, esforço sobre si mesmo- tapas, auto-estudo - swadhiaya, entrega ao Absoluto – Iswara pranidhana) como o tronco; os Ásanas (ou posturas psicofisicas) são os galhos; os Pranayamas (expansão da energia vital através da respiração) como as folhas; Pratyahara (a introversão dos sentidos) como a casca; Dharana (concentração) como a seiva; Dhyana (meditação) como a flor e Samadhi (êxtase) como o fruto.

Podemos usar a eterna sabedoria do yoga em nossa vida diária, e colher o fruto desta árvore, é estar inteiro, no momento presente. Isso requer trabalho e disciplina, e vou me aventurar a contar minha vivência, em todas as partes desta árvore, a partir da minha experiência de parto.

Se queremos uma árvore frondosa e com frutos saborosos precisamos preparar a terra. No caso de receber um bebê, isso significou para mim me (re) ligar com a Mãe Terra ou ou Shakti, a energia feminina que permeia tudo o que é manifesto. Também chamada de kundalini shakti, é a energia simbolizada por uma serpente adormecida na base da coluna. Intuitivamente, comecei a me dedicar a práticas que não costumava, tais como plantar, cozinhar, esperar para colher, tomar banhos longos, contemplar a lua e observar suas transformações. Foi um processo de desaceleração e de substituição da conquistadora, aquela que vai buscar o que quer a todo custo, por aquela que recebe, que contempla, que espera, que tem paciência e que cuida. Reverenciando assim a Mãe Terra foi possível acionar a mãe que existia latente dentro de mim.

Sempre quis adotar, mas senti que precisava parir antes, pois Eu precisava passar pela experiência do parto, das transformações do corpo e mais tarde pela amamentação. Para ser mãe foi preciso aprender a receber e a ter paciência. Foi saber ouvir meu mais profundo desejo (ou instinto) ou intuição. Foi saber ouvir minha verdade (satya), quando tudo em mim queria um filho.

Eu intuí que precisaria me preparar por inteiro, com corpo, mente, emoções, espírito. Nunca me auto-estudei tanto!(swadhiaya).E o yoga foi fundamental neste processo justamente por trabalhar em todos os níveis (físico, energético, emocional, mental e espiritual) e por ajudar em minha (re) conexão com a mãe Terra. Conhecer sobre o processo do parto através dos livros do Leboyer e do grupo de gestantes também foi fundamental.

Através do auto-estudo, descobri que minha verdade pedia por uma gestação e nascimento respeitosos, tanto comigo quanto com meu bebê (ahimsa). Este bebê deveria ser recebido de forma natural, sem intervenções desnecessárias, cercado de amor e harmonia, na privacidade do lar. Nosso tempo deveria ser respeitado e nossa separação acontecer calmamente. Com tempo para ele se acostumar a respirar, ele nasceria e viria direto para meu colo, para ser acarinhado e alimentado. Era isso que vibrava dentro de mim, e fui abençoada por encontrar uma equipe cujo trabalho é exatamente este, o de ajudar mães a terem seu filho naturalmente, com respeito e segurança, mantendo com a mãe o poder do parto, lembrando, cultivando, apoiando a mãe no seu poder de parir.

Era meu direito ter um parto respeitoso e humano e também do bebê de nascer quando estivesse pronto e sem violência e eu não permiti que nada nos roubasse esse direito. Também não permiti que as obrigações cotidianas, no trabalho, roubasse meus momentos de descanso e conexão comigo e meu bebê (asteya). Todavia, precisei manter a noção de que meu desejo e trabalho não garantiriam que eu atingisse meus objetivos. Foi cultivando o desapego dos resultados de minhas ações (aparigraha) que permitiu que eu não caísse em depressão depois de tanto sonho e energia investidos, quando tive minha primeira gestação interrompida antes do segundo mês.

Mantive a limpeza do corpo e a pureza da mente, com a prática constante de yoga, meditação e entoação (ou audição) de mantras. Era comum tomar banho de banheira ouvindo mantras que invocavam a mãe divina. Tive a oportunidade de perceber minha capacidade de praticar santosha, o sentimento de estarmos contentes com o que temos, quando demorei 9 meses para engravidar, perdi meu bebê em 2 meses de gestação e depois demorei mais 9 meses para engravidar novamente. Permanecer feliz e grata à vida neste período de muita espera foi um desafio. Depois disto, foi mais fácil praticar santosha, pois o contentamento se tornou meu estado de espírito dominante. Tive desapontamentos profundos, mas que não abalaram meu contentamento, pois estava conectada com a maravilha de gestar um bebê.

Cultivei o auto-esforço (tapas) exercitando meu corpo com caminhadas e prática de yoga para mantê-lo saudável. Muita atenção à respiração e conexão com o mar e a lua. Da mesma forma, mantive durante toda a gestação uma alimentação equilibrada e saudável.

Eu fazia a minha parte, mas mantive a consciência de que o meu ideal de parto feliz (parto natural em casa) não dependia apenas de minhas ações. Eu fazia o melhor que podia mas sabia que isso não garantiria que meu objetivo fosse alcançado. E tive a oportunidade de provar a mim mesma o quanto estava praticando esta entrega ao Absoluto (Ishvara Pranidhana), quando fui orientada pela equipe a conhecer uma maternidade e me familiarizar com a idéia de ter meu filho fora de casa, pois estávamos próximos das 42 semanas de gestação sem sinais de trabalho de parto. Visitamos a maternidade abrindo espaço em meu coração para receber meu bebê fora de casa e de parto cesárea. 

Não importava mais, neste momento, como ou onde chegaria meu bebê, pois o que eu queria era tê-lo em meus braços. Nesse processo de longa espera perdi completamente o medo da dor, que se transformou em um desejo, porque era essa dor que traria meu bebê para mim. Eu desejei, com toda força, sentir as contrações que anteriormente me amedrontavam.

No fim do dia em que visitamos a maternidade, na última consulta domiciliar de pré-natal, lembro-me dos penetrantes olhos azuis da enfermeira ao me dizer que naquela noite eu entraria em trabalho de parto e no dia seguinte meu bebê nasceria. Fui para a cama tranquila, mas quase não consegui dormir de tantas vezes que tive que ir ao banheiro com a barriga dura de contrações indolores. Assim segui por toda a noite. Pela manhã eu estava em franco trabalho de parto e esperei meu marido e as enfermeiras com sentimento de calma, segurança.

Mergulhei na respiração ujjay (pranayama), a respiração vitoriosa, que por uma leve constricção da glote produz um som semelhante ao barulho do mar. O mar de Varuna (deidade hindu), a quem eu entoei mantras ao passear pela beira da praia todos os dias depois do almoço naquele mês. O mar com suas águas que aprendi a reverenciar para acessar a Mãe Divina presente em mim, e com suas ondas que iam e viam, como aconteceria com as contrações.

Essa respiração me colocava “além da dor”. Eu sentia a dor, mas não me identificava com ela, não combatia, não negava. Fiz amizade com a dor, me entreguei. Quando as dores se intensificaram, não havia mais condições de permanecer deitada. Foi aí que meu corpo pediu a posição (asana) de quatro apoios: de joelhos sobre a cama abracei um pufe à minha frente. Assim permaneci durante todo o trabalho de parto, respirando ujjay, com meu marido e as enfermeiras massageando minha lombar e minha testa, na região do ajna chacra, onde eu sentia uma enorme pressão e calor.

Quando me disseram que já estava com quase oito centímetros de dilatação eu já estava afastada dos meus sentidos (pratyahara). Entendi que estava quase com a dilatação máxima e tinha acabado de começar a sentir dor. O bebê estava próximo e já podia ser tocado no canal de parto.

Eu via, ouvia, sentia as dores, as massagens, o cheiro das águas da bolsa recém- rompida, mas estava tudo longe dali. Eu estava completamente conectada comigo mesma, com minhas contrações, minha respiração e meu bebê. Isso tudo era uma coisa só e meu único foco (dharana).

Eu fui para o lugar que as enfermeiras chamava Partolândia. Um lugar fora do tempo e do espaço e de puro silêncio (dhyana). Lá eu fui buscar meu bebê. Eu já tinha vislumbrado este lugar no fim das aulas de yoga, quando minha professora conduzia um relaxamento profundo no fim da prática e me levava com sua voz a um lugar calmo, tranqüilo, onde eu encontrava com uma velha sábia que morava dentro do meu coração, que fazia parte de mim e me ajudaria a parir e a criar meu filho. Já tinham me dito que a razão e os pensamentos nos afastavam deste lugar e que a única forma de chegar lá era praticando a entrega e a confiança nos ritmos da vida.

No período expulsivo, entrei na banheira com meu marido. Continuava na Partolândia, vendo, ouvindo e sentindo tudo que vinha de fora lá longe...O corpo pediu que eu ficasse de cócoras (malásana), e com os pés firmes no chão da banheira cheia d’água, movimentava meus quadris exatamente como tinha feito na meditação em movimento da aula de yoga no dia anterior.

A respiração (pranayama) também mudou de ujjay para uma respiração mais lenta e profunda, para garantir maior oxigenação e relaxamento. Lá longe me esforçava para ouvir uma das enfermeiras que olhava firme em meus olhos dizer: _ “Cheire uma flor e sopre uma vela”. Entre as contrações nos olhávamos, sorríamos e trocávamos algumas palavras. E a cada contração, meu filho estava mais perto de mim.

Daqui em diante, fica difícil traduzir em palavras o que aconteceu. Eu e o mundo nos tornamos um. Eu me senti uma com a força da vida (e é muita força!). Eu estava em Yoga, em samadhi, o êxtase espiritual, o apogeu, o ponto mais elevado atingido na senda decorrente de todos os esforços para alcançar a união com o Absoluto.

“No samadhi, os rios da inteligência e da consciência fluem juntos e se fundem no oceano da alma, e então, a alma brilha em toda a sua glória”. (Iyengar)

E foi isso que me aconteceu quando meu filho chegou.Todos esses passos foram e são muito importantes na vivência da maternidade, que apenas inicia com a gravidez e o parto.

Referência: IYENGAR, B.K.S. A Árvore do Yoga. São Paulo, Globo, 2001.


Célia Regina da Silva é mãe do Caetano, que nasceu de um lindo parto domiciliar planejado com a equipe Hanami em Florianópolis. É Professora de Yoga para mamães e bebês no Yogashala (Florianópolis) e também é idealizadora da Fralda Madrinha (slings, fraldas e absorventes de pano). Conheça mais sobre seu lindo trabalho em Fralda Madrinha e Yogashala.



terça-feira, 11 de outubro de 2011

YOGA e AYURVEDA – Auto-conhecimento e Saúde


Hoje além de Ayurveda, vou falar um pouquinho sobre Yoga, que é a ciência irmã do Ayurveda.


Algumas pessoas acreditam que Yoga se trata apenas de exercícios físicos complexos ou alguma técnica zen para se manter relaxado, acreditam também que devem ser flexíveis ao extremo e ter super-poderes... Felizmente esta ilustração se encontra muito longe da verdade. 

Mas o primeiro passo do caminho yogiko é a conduta ética - que não tem como objetivo nenhuma conotação moralista, mas tem a intenção de trazer luz para valores universais que são muito importantes para um bem-estar tanto individual quanto social. Por isso, Yoga é para todos. 

Existem 10 valores universais dentro dos chamados Yamas e Niyamas. Mas aqui tratarei apenas do primeiro Yama: Ahimsa. No sânscrito a ordem escrita das palavras denota a escala de importância das mesmas. Ahimsa, traduzido como não-violência, é o primeiro, e portanto o mais importante dos valores, pois em essência todos os outros valores derivam dele. Começar pela não-violência,  indica a não-violência consigo mesmo. Mas em uma perspectiva maior, não-violência alude a qualquer tipo de violência: física, verbal e/ou mental, a qualquer ser vivente.

Entretanto qual é a medida dessa não-violência, já que violência para uma pessoa não é necessariamente para outra? A questão é mais simples do que parece: não faça para o outro o que você não gostaria que fizessem à você. Essa é a medida.

Quando tratamos da nossa saúde, Ahimsa é um importante passo para nos tornarmos responsáveis pelo nosso bem-estar.

Muitas vezes aquilo que não é saudável para nós é muito prazeroso (pelo menos a curto prazo), assim como aquilo que não é tão prazeroso muitas vezes é saudável. Mas felizmente, há coisas que são tanto prazerosas quanto saudáveis – prazerosas porque são saudáveis e saudáveis porque são prazerosas! Saúde não combina com sofrimento, mas combina com disciplina.

Um corpo sano sabe o que é bom para si, bem como uma mente saudável faz escolhas adequadas para o corpo... Mas para atingir esse ponto, precisamos reestabelecer a inteligência do nosso organismo, porque a partir daí as escolhas com Ahimsa acontecerão naturalmente.

Mas como reestabelecer essa inteligência - que é tão corrompida por alimentos altamente industrializados e contaminados, estilo de vida caótico ou sedentário, fortes emoções, excesso de estímulos sensoriais, artificialidades, falta de contato com ambientes e ritmos da natureza, entre outras coisas provenientes do estilo de vida moderno?

A Resposta é o auto-conhecimento.

Através do Ayurveda conseguimos reconhecer nossa natureza metabólica e então adaptar todos os aspectos de nossa vida para ajudar essa natureza a fazer seu trabalho da melhor maneira possível, evitando desequilíbrios e doenças e usufruindo do nosso potencial máximo de saúde e vitalidade.

Através do Yoga, conseguimos reconhecer nossa natureza estrutural (física) pela prática dos ásanas, bem como reconhecer nossa natureza mental, através da meditação, pranayamas e da auto-observação constante de nossa respiração, pensamentos, sentimentos e emoções, durante a execução das ações - seja na aula de Yoga, seja na vida. Assim é possível nos detectar padrões automáticos e destrutivos para nossa saúde, e ampliar nossa Consciência e Inteligência corporal.

Há também algo que cabe frizar aqui, já que estamos falando em Ahimsa e auto-conhecimento: existem diferenças entre as pessoas! Os organismos são sin-gu-la-res... o que isso significa? Significa literalmente que, néctar para uma pessoa, pode ser veneno para outra e vice-versa. Infelizmente isto é pouco respeitado por nós mesmos, e principalmente pela maioria dos profissionais da saúde - que passam o mesmo tratamento para todas as pessoas, pois não tratam a pessoa mas a sua doença; bem como por alguns “professores” de Yoga - que adotando uma paradoxal inflexibilidade, orientam a todos os seus alunos fazerem as posturas da mesma maneira: corrigindo aqui, apertando ali, forçando acolá...desconsiderando os limites musculares/ósseos de cada um e que por fim, acabam causando lesões sérias e irreversíveis em seus alunos. 
Como muito bem diz meu professor Pedro Kupfer: “se contorcionismo levasse a libertação, os contorcionistas de circo seriam seres iluminados”. Há também o excepcional trabalho do meu marido que trata justamente sobre isso, veja aqui.

A chave para saúde é Ahimsa assim como a chave para Ahimsa é o autoconhecimento. Nesse contexto, as ciências irmãs Yoga e Ayurveda, são como os dois lados de uma balança bem equilibrada... experimente!






quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Navaratri - Adoração a Mãe divina

O início da primavera e início do outono são duas junções muito importantes de influência climática e solar. Estes dois períodos(de acordo com o calendário lunar), são oportunidades sagradas para a adoração da Mãe Divina.


A Mãe Divina ou Devi/Shakti em sânscrito, é o aspecto puramente feminino, criador e ativo da Pura Consciência, que permeia tudo o que existe(manifesto e imanifesto). No mundo manifesto, a energia de Devi é muito bem simbolizada pela figura da mulher, da mãe e da grande mãe-natureza. Porém, esta mesma energia divina repousa em toda criação.

Então hoje, dia 28 de Setembro começa uma celebração muito importante, principalmente na Índia. Essa celebração terminará apenas dia 6/10, por isso é chamada de Navaratri. Nava em sânscrito significa 9 e ratri noites... são nove noites e 10 dias celebrando a vitória de Devi contra as forças demoníacas, que é uma maneira simbólica de representar a batalha contra os nossos próprios demônios internos.

Nos três primeiros dias e noites, Kali- a Deusa da força e da transformação é adorada. Ela é invocada para nos ajudar a destruir todas nossas impurezas.
Lakshimi


Nos três dias e noites seguintes, Lakshimi - a  Deusa da prosperidade é adorada. Ela é invocada para nos ajudar a adquirir riqueza interna e externa, bem como generosidade e abundância em nossas vidas. 


Nos três últimos dias e noites, Saraswati – a deusa do conhecimento é adorada. Ela é invocada para nos ajudar a adquirir Auto-Conhecimento    

No décimo dia, é comemorada a vitória propriamente dita, que simboliza que o Conhecimento foi adquirido.


Para os Hindus, o Auto-Conhecimento ou o Conhecimento da Verdade é o RE-CONHECIMENTO de que nós (e tudo o que existe) somos em essência Pura Consciência – eterna, ilimitada e bem aventurada.

Saraswati




Cabe lembrar que essas Deusas não são entidades separadas de nós, elas são apenas figuras simbólicas para representar nossos próprios poderes internos. Primeiro precisamos nos libertar das impurezas mentais, depois conseguir conforto suficiente para ter uma mente tranquila e apta para então, poder adquirir o Conhecimento.






Seja através do auto-cuidado, mantras, orações, rituais, meditações ou através do contato íntimo com a natureza…Esse deve ser um período de introspecção e de purificação, e tradicionalmente é um momento auspicioso para reverenciar o poder feminino à sua maneira.




Ya Devi Sarva Bhutesu Maa rupena samsthita 
Ya Devi Sarva Bhutesu Shakti rupena samsthita 
Ya Devi Sarva Bhutesu Buddhi rupena samsthita 
Ya Devi Sarva Bhutesu Laxmi rupena samsthita 
                                            

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Picolé de Leite Materno

Mãe diz que os picolés ajudam o bebê a aliviar incômodo dos dentes.

Nutricionista diz que, mesmo congelado, leite materno mantém propriedades.

Para fazer o picolé, Ariane coloca 50 ml de leite em cada forminha (Foto: Tatiane Queiroz/ G1 MS)Para fazer o picolé, Ariane coloca 50 ml de leite em
cada forminha (Foto: Tatiane Queiroz/ G1 MS)
A administradora  Ariane Osshiro, de 27 anos, resolveu inovar na alimentação do filho de oito meses e criou uma receita diferente: ela faz picolés de leite materno. A mãe mora em Campo Grande e contou ao G1 que a ideia ajudou o bebê a sentir menos calor e a driblar o incômodo por causa dos dentinhos que começaram a nascer.
O filho de oito meses, Pedro Osshiro, aprovou a ideia da mãe. “Ele adorou o picolé. Às vezes chupa até dois por dia”.
“Em Campo Grande as temperaturas são altas na maior parte do ano e o calor deixava meu bebê bem irritado. Por isso tive a ideia de fazer o picolé”, contou a mãe.
Para fazer cada picolé, a mãe coloca cerca de 50 mililitros de leite em uma forminha caseira já higienizada e depois coloca no congelador. Para tirar o leite do peito ela usa um bomba extratora. “Não dói nada e além disso é rápida e prática”.
Ela explicou que começou a dar o picolé de leite do peito para o filho depois que ele fez seis meses, que é o tempo mínimo de amamentação recomendado pelos pediatras. Ainda segundo a mãe, o bebê chupa o picolé apenas no período da tarde, entre as mamadas. “É como se fosse um lanchinho nutritivo”, brincou Ariane.
A especialista Paula Serafin, que é enfermeira e doutoranda em estudos sobre leite humano, afirmou que gostou da ideia. “Ela criou uma maneira divertida de alimentar o bebê sem deixar de dar o leite do peito que é muito importante para garantir a saúde dele”.
A nutricionista Elisabete Kamiya, que trabalha no banco de leite do Hospital Universitário em Campo Grande, explicou que o leite materno congelado  continua com a mesmas propriedades do leite em estado natural. “O leite materno contém carboidratos como lactose e oligossacarídeos, além de gordura, proteínas e vitaminas", informou a nutricionista.
No entanto, Kamiya aconselha as mães a consultarem o pediatra antes de mudar a alimentação do bebê.
picolé leite materno (Foto: Tatiane Queiroz/ G1 MS)Pedro, de oito meses, aprovou a ideia da mãe (Foto: Tatiane Queiroz/ G1 MS)POR TATIANE QUEIROZ DO G1/MSFONTE: http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2011/09/em-ms-mae-usa-picoles-de-leite-materno-para-amenizar-calor-de-bebe.html

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

CUIDADOS AYURVÉDICOS PÓS PARTO MAMÃE&BEBÊ



Durante a gestação, de forma perfeita, um novo ser se desenvolve dentro de nós. O útero aumenta 20 vezes seu tamanho normal e faz um lar aconchegante para o bebê. Depois do parto, aquele espaço que outrora era ocupado pelo bebê fica vazio e passa a ser ocupado pelo ar.

Na Ayurveda, o ar corpóreo é chamado de Vata. Vata é a bioenergia responsável por todos os movimentos do nosso corpo, mas quando em excesso gera inúmeras complicações funcionais tais como: constipação, gases, ansiedade, agitação, insegurança, insônia, desnutrição, má absorção, envelhecimento, frio excessivo, secura, entre outras.
Durante o pós-parto, essa energia tende a se acumular tanto pelo espaço uterino ter sido ocupado pelo ar, como pela falta de sono devido à amamentação noturna, preocupações com o novo bebê, mudança na rotina, mudanças no corpo e todas as funções que a mãe tem que adaptar a sua nova vida. "A mãe é parida junto com seu filho".

Com todas estas transformações, o AGNI, nosso poder digestivo fisiológico/mental também tende ao desequilíbrio e conseqüentemente poderá resultar em biotoxinas indesejáveis.
Então, alguns cuidados devem ser tomados para que a depressão pós parto e outras complicações passem longe das mamães.

Cuidados com a mãe

Uma dieta leve como sopas, kichadi, ou arroz e vegetais com especiarias são mais indicados, assim como chás em geral são muito bons para terminar de limpar o organismo. Evite comer e beber coisas geladas, alimentos gordurosas, alimentos crus e pesados antes de sentir que sua digestão e eliminação estão adequados. Depois de regularizada a digestão, procure comer alimentos puros, frescos, nutritivos e que estejam de acordo com a sua constituição.


Respeite o poder de recuperação natural de seu corpo e evite atividades físicas e mentais extenuantes, sexo, exposição ao vento, frio ou chuva... principalmente durante a quarentena. Nesse período, toda sua energia deve se voltar para a AMAMENTAÇÃO.

Por tanto, quando seu bebê dormir durante o dia, aproveite para descansar um pouquinho junto a ele, até que seu corpo se acostume com as mamadas noturnas e o sono interrompido (de acordo com Ayurveda, essa é uma das únicas indicações para dormir durante o dia).


Para as mamães que tiveram parto normal é indicado que façam a higiene vaginal com água ou chá de malva - que é antinflamatória, ao invés de usar papel higiênico. Depois secar com um paninho de algodão e então aplicar óleo de copaíba suavemente com os dedos - que é um ótimo cicatrizante.
Faça semanalmente massagem com óleo morno de gergelim (abhyanga), para acalmar Vata Dosha no seu organismo.

Para eventuais rachaduras nos seios pingar 4 gotas de óleo essencial de rosa + 2 gotas de óleo essencial de limão em duas colheres de sopa de óleo vegetal. Massagear a área afetada e limpar com um algodão com água morna antes de o bebê mamar.

Cuidados com o bebê
Amamentar é o bem maior que você pode dar a seu bebê. Durante o processo, sente em um local confortável, apoie seu braço em uma almofada e deixe tudo o que eventualmente for precisar bem perto de você(copo de água, celular, paninho, concha coletora, etc) para não interromper esse momento especial. Troque caricias, olhares e palavras...esteja inteira de corpo e alma para seu  bebê.


Massageie diariamente o bebê com óleo morno de gergelim e depois dê um banho bem gostoso pingando algumas gotinhas de óleo essencial de lavanda na banheira.

Dê muito colo e utilize o wrap sling ou outro carregador de bebês para que ele retome aquela gostosa sensação intra-uterina.

Para fazer a higiene no bebê, evite utilizar baby wipes ou aqueles paninhos umedecidos,  bem como aquelas pomadas e cremes contra assadura, pois esse produtos levam muita química. Utilize um algodão com água morna, seque com paninho e aplique óleo de gergelim puro ou medicado com calêndula ou camomila. Para limpar o coto umbilical passar um cotonete emebido em álcool 70%.

Se o bebê apresentar gases, faça uma suave massagem abdominal com óleo morno de gergelim no sentido horário e depois movimente os joelhinhos até o umbigo fazendo uma leve pressão no abdome. Em seguida banho de balde.

Obs: Os óleos vegetais sempre devem ser aqueles extra virgens e prensados a frio. Nota para o óleo de gergelim que não pode ser aquele óleo de gergelim torrado.

...Espero que essas dicas ajudem em um maternar pleno, cheio de saúde e disposição!
Harih Om






terça-feira, 23 de agosto de 2011

A relação entre Maternidade e Sexualidade



Prepare-se para quebrar o paradigma que parir é sofrer!!!
Kalu Brum tem 29 anos e é mãe de Miguel, nascido há dois de forma natural. Ninguém melhor do que ela para descrever o parto: “Lembro da sensação quente, do escorregar daquele pequeno corpo pelas minhas entranhas. Eu estava ali, nua, fêmea, selvagem, desfrutando do prazer mais intenso que já vivi. Um longo orgasmo selou sua passagem para esta vida, quebrando com o paradigma de que nascer é sofrer”.
Gozar no parto, como assim? Qualquer menina com mais de 15 anos sabe a resposta sobre “a pior dor que existe”: “A do parto, claro!”. Mas, para as mulheres que passaram por uma experiência de parto natural, há uma opinião unânime: é possível sentir as contrações com prazer. Isso porque a mulher, assim como cada fêmea do reino animal, possui um sistema reprodutivo perfeitamente organizado para a manutenção da espécie, garantindo que gestar e parir sejam experiências seguras – e até prazerosas. Num parto normal, livre de intervenções médicas, o organismo se encarrega de produzir os próprios analgésicos. Tudo bem, isso você já sabe, já viu no Discovery Home and Health, já leu no blog de uma amiga natureba. Provavelmente, porém, você desconhece mulheres que relatam verdadeiros orgasmos durante o parto. “É lógico que a mulher pode ter uma experiência prazerosa e estimulante ao parir. Nem todo parto resulta num orgasmo, mas se tudo ocorrer de forma equilibrada, e a mulher não fizer uso de analgesia, é perfeitamente possível que ela tenha um momento de grande prazer, principalmente na hora da expulsão do bebê”, afirma Carlos Czeresnia, ginecologista obstetra que acompanha partos há 35 anos e que, entre outras coisas, foi chefe do setor de ginecologia do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas/FMUSP e é especialista em reprodução humana. “Os movimentos de distensão e contração do períneo no momento em que o bebê vai sair são muito semelhantes à sensação do orgasmo. E o cérebro interpreta esses estímulos neurais com respostas de prazer. O parto e o orgasmo percorrem o mesmo caminho neurológico”, completa.


Jato de prazer
O assunto, tratado como tabu por muito tempo, tem vindo à tona em conversas de recém-mães. E também por causa de um documentário que rodou os festivais de cinema do mundo, o Orgasmic Birth (veja box). “O parto é um ato fisiológico e não cirúrgico. Durante o trabalho de parto, o principal hormônio produzido, responsável pelas contrações do útero, é a ocitocina, liberada em situa ções de prazer. Esse hormônio é produzido em jato, por exemplo, durante o orgasmo feminino e também na amamentação”, esclarece. Adaílton Salvatore, ginecologista obstetra, especialista em homeopatia e acupuntura. Com mais de 1.600 partos no currículo – 65% deles normais – e passagens por maternidades na França, na Alemanha e na Inglaterra, o médico explica que, durante o trabalho de parto, muitas glândulas funcionam ao mesmo tempo e são muitos os hormônios atuantes. Entre eles, estão os opioides endógenos, cuja molécula, semelhante à do ópio, provoca um estado de euforia, alegria, leveza. “Nesse contexto, o parto pode ser visto como um rito de passagem.”

Respira e goza

Para sentir prazer no parto, a mulher não pode ter medo. A sensação de perigo alerta o cérebro, que acaba por produzir mais adrenalina – inibidora da ocitocina –, deixando corpo e mente sob estresse. Mas medidas simples podem ser tomadas para que tudo aconteça de forma equilibrada, permitindo que o sistema límbico, parte mais primitiva do cérebro, produza as substâncias necessárias a essa orquestração hormonal. “Um parto próximo do ideal é aquele em que a mulher pode esquecer a razão, se desligar do funcionamento racional do cérebro, representado pelo neocórtex”, explica a psicanalista Vera Iaconelli, do Instituto Sedes Sapientiae. “A mulher tem direito a relaxar, a não ser interrompida, a ficar em contato com o seu corpo. O trabalho de parto implica um funcionamento muito primitivo, que ocorre em situações excepcionais, como durante o sexo”, compara.
Geralmente expostas a ambientes com luz forte, barulhos, gente entrando e saindo, as parturientes não conseguem relaxar: “Não dá para ter prazer no parto com medo, assim como não dá para ter prazer no sexo se estiver amedrontada. Para ter prazer sexual você precisa de intimidade. Só assim é possível desligar o neocórtex. Sob pressão, ninguém tem prazer”, ressalta Ana Cristina Duarte, doula (profissional que garante o bem-estar da mulher durante o parto) e parteira formada no ano passado na primeira turma do curso superior de obstetrícia da USP, rea berto em 2005 após 33 anos de extinção.
Sheila Ribeiro, quando pariu sua segunda filha, estava no lugar mais íntimo do mundo, sua casa. Ela já tinha sentido um orgasmo durante a expulsão da primogênita, Thalita. Mas a dilatação ocorreu de maneira tão rápida e indolor no segundo parto que Naiara nasceu de repente, desassistida por médicos e enfermeiras. “De cócoras, tive o maior orgasmo da minha vida, com aquela sensação que partiu da vagina e percorreu meu corpo inteiro, da ponta do dedão ao último fio de cabelo”, confessa. A advogada, hoje com 49 anos, atribui a “maravilhosa experiência” ao seu estilo de vida saudável, à prática de exercícios, ao tratamento homeopático. Sua teoria encontra respaldo na maneira como pensa – e trata as pacientes – o doutor Adaílton. Para ele, o primitivo está completamente esquecido hoje, afinal, vivemos na era da razão. “Pensamos: ‘Para que caminhar, se posso ficar em casa e produzir algo?’. A atividade física perdeu para a intelectual. Nesse clima competitivo, a mulher vive sob adrenalina, fabricando mais testosterona”, afirma o médico, que argumenta que o sistema imunológico de muitas mulheres está desvitalizado. Atribui isso ao estilo de vida da maioria da população, que come alimentos refinados, pobres em oligoelementos (microminerais fundamentais para a formação de enzimas vitais). “Tudo isso altera nossa fisiologia. O trabalho de parto é uma maratona, o organismo precisa estar bem. Ouça os gritos de uma mulher durante o parto: são guturais. Urros instintivos que emergem da parte mais primitiva de seu cérebro.”
Armadilha

Debra Pascali-Bonaro, doula há 26 anos, mãe de três filhos de parto natural, conhece essa história: “O parto possibilita uma nova perspectiva de si mesma. As mulheres que têm um parto prazeroso sentem-se confiantes, conscientes de seus poderes. Temos que questionar o sistema que medicalizou o parto, pois muitas mulheres perdem a oportunidade, profundamente transformadora, que pode ser dar à luz”, diz a americana, autora do documentário Orgasmic Birth.
Assim como Debra, as 15 mulheres ouvidas para esta reportagem concordam que, muitas vezes, os esquemas dos médicos acabam impedindo que a mulher experimente esse prazer. Ao mesmo tempo, elas constatam que isso também pode virar uma armadilha. Além de “ter que” ser linda, superprofissional, boa mãe, ter parto normal, só faltava a mulher “ter que” sentir prazer ao parir: “A ideia é resgatar a naturalidade do parto e, assim, também a sexualidade inerente a ele. Mas idealizá-lo pode gerar frustração”, destaca Vera, seguida por Ana Cris, a doula: “É perigoso colocar o orgasmo como um objetivo”. Entenda-se: para permitir que o menor diâmetro da cabeça se molde para atravessar a pelve materna, o bebê costuma se virar em algum momento. “Ao passar pelo canal de parto (vagina), ele apoia a parte de trás da cabeça, o cocuruto, bem onde está o clitóris, para fazer um movimento rotativo e poder sair. Esse apoio se dá em uma região repleta de receptores de prazer. Além disso, a cabeça do bebê funciona como um rolo compressor, relaxando e tonificando os músculos da pelve”, explica o doutor Adaílton.
Professora da técnica corporal Alexander, Ana Thomaz, 42 anos, gargalhava durante as contrações: “Eu não acreditava que estava tendo um parto orgásmico! Já tinha ouvido falar nisso, mas não nutri nenhuma expectativa nesse sentido”, conta. Talvez tenha sido justamente essa falta de expectativa que a tenha levado a um parto prazeroso. “A gestante precisa buscar informações além dos consultórios. Muitos médicos desestimulam o desejo de um parto normal, então é melhor encontrar um profissional que abra o maior leque de possibilidades”, aconselha a psicanalista Vera.
Tão imprevisível quanto o prazer ao amamentar, capítulo seguinte ao parto, quando muitas mulheres se assustam ou se envergonham da sensação prazerosa que têm ao dar de mamar. “Por que a natureza colocou receptores de prazer no mamilo? A mama é para o filhote e a mulher deve, sim, sentir prazer. Todos esses hormônios que ela produz, a endorfina, a ocitocina, vão para o leite do bebê”, afirma Ana Cris, antes de concluir: “Mas a amamentação é politicamente correta, cena plácida, que recebe campanhas de incentivo. Mas prazer no parto? Como assim, é louca?”.


SEGREDO BEM GUARDADO
Após trabalhar por mais de duas décadas assistindo partos, a doula e educadora perinatal Debra Pascali-Bonaro percebeu que a mídia norte-americana tratava o nascimento como uma questão de emergência médica. “Por que ninguém falava sobre a natureza sensual do parto, do êxtase que ele pode proporcionar?” Começou, então, a falar do assunto para pequenos grupos de gestantes. Mas não estava satisfeita, queria contar para um grande número de pessoas. E foi dormindo que Debra teve o insight. “Tive um sonho com o filme e, quando acordei, tinha encontrado a fórmula!” Ao registrar o aspecto sexual do nascimento através da história de 11 casais que optaram pelo parto normal, o filme, intitulado Orgasmic Birth, causou comoção no circuito mundial de festivais quando foi lançado, em 2007. Foi exibido, inclusive, durante o Festival do Rio 2008. “Já rodou em 31 países. Não tinha ideia de que este seria um assunto de tanto interesse no mundo todo”, diz Debra. “Acho fundamental que os casais grávidos ouçam histórias de quem teve um parto prazeroso. Ao assistir ao filme, uma nova perspectiva se abre a quem espera uma criança. Brinco que o documentário revela um segredo bem guardado. Afinal, se a mulher não conhece suas opções, então ela não tem nenhuma.” Vai lá: www.orgasmicbirth.com


“SENTIA QUE TINHA VIRADO BICHO”
POR DANIELA BUONO*
“Passei dias trabalhando na edição de um vídeo que quase me enlouqueceu. No dia da entrega, fui ao banheiro e, de repente, chuáááá: ‘Caraca, a bolsa estourou!’. Fiquei aflita e chamei o editor. ‘Fala sério, Dani! Não tenho a menor ideia do que fazer numa hora dessas.’ Nem eu tinha. Fiquei lá mais um pouco, sentada, retomando as lições aprendidas nos últimos meses. Estava com 36 semanas e três dias, o que significava que minha bebê ainda estava prematura. O que seria do meu sonho de ter um parto natural? ‘80% a 90% de chance de ser um parto normal’, disse o médico. ‘Mas precisamos que você entre em TP (trabalho de parto) nas próximas 24horas’, completou. Flávio me pegou e fomos para a maternidade. Tomei um banho e me sentia tão feliz... Parecia que estava me preparando para casar. Tinha certeza de que daria tudo certo!
A doula me aconselhou a relaxar porque a adrenalina podia atrapalhar a ação da ocitocina, o hormônio que eu precisava produzir para começar o TP. As contrações já estavam fortes, mas suportáveis. Senti um imenso prazer por perceber que a hora estava chegando. Sentia dor, mas também prazer e muita emoção. A cada contração, uma força maior me atravessava. E essa força ia, pouco a pouco, me conectando a todas as minhas ancestrais, como se elas estivessem me contando um segredo. Procurava toda hora os olhos do Flávio, como se precisasse passar um pouco daquela energia pra ele.
Aí a dor aumentou muito e eu já não achava posição. Os gemidos aumentaram, eu estava começando a temer aquela dor. Parecia mais forte do que eu. Fui para o chuveiro e algo sobrenatural aconteceu: sentia que tinha virado bicho. Não havia mais razão, eu era puro instinto! Estava concentradíssima em me deixar abrir para o neném passar. Finalmente, dilatação total. Numa determinada contração, senti o tal anel de fogo, a bebê passando pela vagina. Fiz o dobro de força. Dei um grito e senti um enorme alívio: passou cabeça e corpo de uma vez. ‘Nasceu, Dâ! Nasceu a Maria Clara, meu amor!’, disse o Flávio, superemocionado. Na hora em que ela saiu, ele começou a gemer de êxtase...”

* Daniela Buono
, 35 anos, é jornalista, roteirista e diretora de vídeo.
Além de Maria Clara, de 4 anos, é mãe de Bebel, de 1.


Texto por Fernanda Danelon Fotos Roberta Dabdab Ilustração Milena Galli e Rafaela Ranzani
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